terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Vou fazer uma romagem de saudades ao quintal do 173

Hoje o inquilino da casa que deixei telefonou logo pela manhã. Os pais viviam na casa ao lado, quem olha de frente a da direita, morreram, a casa foi vendida e ele resolveu mudar-se para a minha. Quem olha de frente para a esquerda havia um terreno vazio, cheio de silvas, onde cresciam as chagas e as gilas cujas sementes lá iam parar. Engraçado que no meu quintal nunca cresciam. A Sara também tem chagas no quintal, usa as flores nas saladas e faz alcaparras com os botões. Engraçado que quando estava em casa não dava importância ao quintal mas agora tem o dela que é um mimo. Às vezes penso se o nosso terá deixado nela saudades, se terá querido refazê-lo na sua casa. Não deve ser isso, mas eu gosto de pensar que é.Enfim. O quintal dela é um pouco confuso, ela é adepta da permacultura, isto é, deixa tudo à vontade , as plantas que lá vivem crescem onde lhes apetece. Acho um bocado de descontracção a mais, ela lá sabe. O nosso devo confessar que também era um bocado desorganizado. Como eu não tinha experiência nenhuma, apenas tinha umas ideias vagas do quintal dos meus pais que desapareceu quando eu tinha uns dez anos, plantava e semeava tudo o que gostava e me vinha parar às mãos. Parar às mãos a bem dizer, devo confessar que roubei bastantes sementes e várias estacas. Na altura achava que era um direito que me assistia, pegar em coisas que não faziam falta a ninguém, dar-lhes uma hipótese de experimentarem viver noutro local, com outra forma de vida, outra vizinhança. Dessa forma plantei um belo relvado com guias de relva que apanhei em Esmoriz. E fiz uma colecção de brincos de princesa, eram 29 diferentes, cujas fotos tenho noutro blog, ainda bem que as guardei. Se o dono dos blogs os cancela lá vai a recordação para o galheiro, quer dizer ficam perdidas no espaço ciberal. Não foi tudo roubado, até acho esta palavra muito exagerada. Plantei japoneiras que um colega me deu, aromáticas que o Sr. Augusto jardineiro em Serralves me dava, aloé que me deram na Colômbia, espargos que o Sr. Molinos me deu, sei lá que mais. A única coisa que me lembro de ter comprado foi uma palmeira que espero bem tenha resistido aos escaravelhos que vieram do estrangeiro. Depois as coisas cresciam, cresciam, cresciam e eu tinha pena de as arrancar, resultado, havia alturas que quando chegava à varanda parecia-me estar em plena mata atlântica. Tinha uma feijoa, um tamarilho, um limoeiro, um araça, uma ramada de quivis, um hibisco, hidranjas, roseiras, jarros, azáleas, um redondendro,um abacateiro que nunca deu (plantei um caroço depois de o ter metido em água durante uns meses...) etc e etc e etc. Um dia destes vou pedir ao inquilino que me deixe fazer uma romagem de saudades ao quintal.

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